A inovação pode nascer dos lugares mais simples que você imagina e impactar profundamente os processos e a vida das pessoas envolvidas.
Vou compartilhar um exemplo que vivi na prática:
Durante o meu trabalho como médico de estratégia de saúde da família, notei que alguns pacientes hipertensos e diabéticos retornavam às consultas relatando episódios de queda pressórica e hipoglicemia. Eles não sabiam explicar bem o que acontecia nesses dias, embora, nos demais, estivessem bem adaptados à medicação.
Certa vez, Dona Selma, funcionária de serviços gerais da clínica que se consultava comigo para tratar hipertensão (HAS), chegou ao trabalho com uma pressão arterial de 90x60 mmHg, muito baixa para ela, que geralmente se mantinha com 130x80 mmHg enquanto tomava a medicação. Após realizar o atendimento inicial, durante nossa conversa, questionei os horários exatos em que ela tomava os medicamentos para hipertensão. Na receita, estava prescrito “de 12h/12h” (ou “1 comprimido pela manhã e 1 comprimido à noite”). Ela relatou que tomava um comprimido antes de dormir e outro ao acordar. Porém, ela dormia às 2h da manhã e acordava às 5h30, o que caracterizava uma superdose da medicação devido ao curto intervalo de tempo.
A partir desse episódio, percebi que minha forma de comunicação com os pacientes precisava mudar. Quantas “Dona Selmas” não passaram pela mesma situação, abandonaram o tratamento devido a esses sintomas e tiveram uma progressão pior da doença? Fiquei reflexivo: um problema grave de comunicação estava o tempo todo ao meu lado, mas eu não o havia percebido porque nunca questionei os processos que reproduzia.
Compreendido o problema, a construção de uma solução ficou mais clara. E, para começar, era necessário pensar de forma simples e econômica — a inovação muitas vezes nasce nesses lugares.
Foi então que tive uma ideia: por que, ao invés de colocar na receita “tomar de 12h/12h” ou “1 comprimido pela manhã e 1 comprimido à noite”, eu não especificava o horário exato em que o paciente deveria tomar a medicação? Decidi mudar minha abordagem. Passei a perguntar aos pacientes: “Que horas você acorda e que horas você dorme, normalmente?”
Assim, comecei a criar receitas personalizadas para cada paciente. Com o tempo, tornou-se evidente que a adesão ao tratamento aumentou consideravelmente, e consegui eliminar problemas relacionados à superdosagem de medicamentos de uso contínuo.
Essa história nos ensina que a inovação pode surgir de ações simples, sem necessidade de tecnologia sofisticada, e de soluções que podem parecer óbvias apenas após o problema ser claramente visualizado.
Agora, me conta: qual inovação você já adotou no seu dia a dia e, até ler este post, nem sabia que poderia ser considerada uma ideia inovadora?